terça-feira, 21 de abril de 2009

GoCar Tours: um tour por Lx num cabrio amarelo


Lisboa tem uma nova atracção turística de Lisboa. Para quem quer conhecer a cidade de uma forma divertida! Como? Através de descapotáveis com GPS único no mundo e conteúdo interactivo.
Conduzir este carro é uma verdadeira aventura. Um verdadeiro guia turístico da cidade de Lisboa mas um guia nada convencional, indicado apenas para os mais aventureiros e com vontade de se divertirem…e muito. Com um computador a bordo e dotados de tecnologia GPS, estes veículos funcionam com uma verdadeira enciclopédia de informação turística, histórica, cultural e paisagística de Lisboa, indicando-lhe curiosidades e informações recheadas de humor.
A GoCar Tours oferece três rotas na cidade. A rota do Centro-Baixa, que percorre os pontos de interesse da baixa pombalina e dos antigos bairros; a de Belém, uma viagem descontraída junto ao rio e monumentos e a rota da Expo, que o leva a descobrir o contraste entre a Lisboa moderna e antiga. E o melhor disto tudo é que o passeio pode ser feito ao seu ritmo. Pode parar para um café numa esplanada ou espreitar as vistas num miradouro.
Informações genéricas: R. dos Douradores, 16- Lisboa; Primeira hora (25€), dia inteiro (89€). Reservas (das 9.00 às 15.00). Envie um e-mail para: reservations-pt@gocartours.com ou ligue: 91 800 0191/ 21 096 5030. www.gocartours.eu

sábado, 3 de janeiro de 2009

Crónica por Terras do Sal (Cabo Verde)


“Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são.

Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.

A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos.”

Fernando Pessoa

Os caboverdianos dizem que a palavra "MORABEZA" não tem tradução, nem se explica, apenas se sente.
Eu sentia-a: como é possível ser feliz com tão pouco, como é bom sentir o calor humano de um sorriso aberto (revelador de milhões de emoções), o encanto de saltar um muro, como se não existisse amanhã, como se se quisesse aproveitar ao máximo o que se pudesse, como se fossemos donos do mundo…nem que seja por momentos.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Ribeira do Guilherme em São Miguel, Açores



Situada num vale, numa das suas margens, vemos o Jardim Botânico da Ribeira do Guilherme, envolvido por um outro jardim dotado de cascatas e um moinho recuperado. Um verdadeiro paraíso da natureza.
Nesta zona ainda podemos encontrar o Priolo ou Dom Fafe dos Açores, uma ave em vias de extinção.

A aventura do caminho de ferro em Portugal

Com uma história de 150 anos, a aventura do caminho de ferro em Portugal leva-nos até 1856, data em que a estratégia política de obras públicas de Fontes Pereira de Melo tinha como principal objectivo contrariar a imagem de um país conformado e pouco empreendedor. Na época o comboio foi considerado um factor de competitividade, não obstante algumas vozes discordantes: Alexandre Herculano defendia veementemente que “o melhoramento social e moral dos povos” não dependia da sua existência e Almeida Garret gracejava, dizendo que nunca viajaria “nos comboios dos barões”. Dados da época revelam que em 1798 a primeira mala-posta de Lisboa a Coimbra demorava 40 horas e em 1830, a viagem de Lisboa a Badajoz 36 horas.
Em 1856 − trinta anos após os ingleses e vinte sobre os alemães e franceses − iniciou-se a construção do caminho de ferro, com o troço Lisboa - Carregado. Noticiaram os jornais que na inauguração uma das locomotivas avariou e os vagões com convidados ficaram perdidos na linha até tarde. Apesar destas peripécias, dois anos depois já se conseguia despachar mercadorias para Lisboa a partir da estação de Santarém.
Estava dado o primeiro grande passo para o início da saga do caminho de ferro em Portugal. A actual rede ferroviária possui 3.000 quilómetros e nela circulam cerca de 180 milhões de passageiros e 10 milhões de toneladas de mercadorias por ano.

Espaço Museológico da CP em Santarém


Durante a viagem tivemos oportunidade de apreciar os azulejos das estações de Vila Franca de Xira e da Azambuja. Em Vila Franca, os painéis decorativos de 1930 − de Jorge Colaço, também autor da decoração do átrio da estação portuense de S. Bento − representam temas regionais como touros, cavalos e campinos, a pesca tradicional no Tejo ou a produção agrícola de cereais e vinhos.
Atribuídos a Carlos Moutinho, os azulejos da estação da Azambuja (1935), ilustram temas ligados à pesca e navegação no Tejo, bem como à colheita de cereais e à vindima.
Até Vila Franca a linha do Norte passeia de mãos dadas com o rio Tejo. Os olhares dos viajantes facilmente cruzam-se com a beira-rio, atracção essa também largamente comentada por Oliveira Martins nas “Cartas Peninsulares” ao recordar as belezas da paisagem ribeirinha.
E eis que chegamos a Santarém, capital do gótico. Tendo em consideração que a cidade fica situada à cota alta enquanto a linha férrea passa junto ao Tejo, chegar até à cidade requer alguma preparação física. Sugerimos, em alternativa, a utilização do autocarro ou um dos muitos táxis que abundam na zona.
Mais um vez os azulejos da estação (1927) focam temáticas regionalistas, a que se juntam cenas agrícolas e referências à conquista do castelo aos mouros, sendo estes atribuídos a J. Oliveira.
O Espaço Museológico da CP, em Santarém, é contíguo à estação de caminhos de ferro e encontra-se instalado numa antiga cocheira de carruagens da estação, tendo sido inaugurado em 1979. O visitante pode observar carruagens e locomotivas, incluindo o famoso “Comboio Real”. Esta composição rebocada pela locomotiva “D. Luís” (fabricada em Inglaterra em 1862) é constituída pelo Salão D. Maria Pia (construído na Bélgica em 1858 e oferecido como prenda de casamento pelo pai de D. Maria, o Rei Victor Emanuel de Sabóia), pelo chamado Salão do Príncipe, e ainda, pelo Salão Presidencial (fabricado em 1930 na Alemanha). O requinte e sofisticação destes verdadeiros salões rolantes, forrados a veludo é impressionante.
Para além disso o espaço alberga diversos objectos de interesse como: utensílios utilizados na reparação e conservação da via férrea, bem como outros aparelhos instalados nas locomotivas, duas locomotivas de menor porte, a vapor, uma vinda de Guimarães e a outra das minas do Pejão.
Caso tenha curiosidade visite a localidade da Ribeira de Santarém e saiba porque é que a tradição diz que se a água um dia chegar ao pescoço da Santa Iria o Rossio, em Lisboa, já estará submerso.

Como forma de evocar os tempos gloriosos do caminho-de-ferro recomenda-se a visita às secções museológicas da CP, onde poderá ver material do século XIX ainda em funcionamento. Pode ainda consultar o site www.cp.pt ou telefonar para o call center da CP (808 208 208).

quarta-feira, 26 de março de 2008

Palácio Nacional de Sintra


Sintra tem um património muito antigo onde se destaca o Palácio da Vila.
No século XV, D. João I fundou o Paço Real (actual Palácio Nacional de Sintra), onde permanecia grandes temporadas. Foi aqui que se elaborou o plano da malograda conquista de Ceuta. D. Manuel receberia em Sintra a notícia da iminente chegada a Belém da armada de Vasco da Gama que completara o caminho marítimo para a Índia. Entre 1507 e 1520, faria obras profundas no Paço onde se reunia a sua sumptuosa corte. E numa destas salas, Luís de Camões leu ao rei D. Sebastião “Os Lusíadas”, em estreia absoluta.
Construído no antigo local de uma vila muçulmana e seu alcazar, até ao reinado dos Filipes foi um dos principais paços reais e durante a época medieval fazia tradicionalmente parte da Casa das Rainhas.
No Palácio Nacional de Sintra sobressaem as duas chaminés da cozinha gótica. No interior, a Sala dos Brasões e as salas dos brasões e das Pegas.
O palácio, pelo confronto de duas épocas e pela sua original arquitectura assimétrica e labiríntica, articulando-se os edifícios num jogo de volumes, constitui um património único de uma arquitectura de fusão que mistura o gótico, um manuelino exuberante e renascentista e a inspiração árabe. Aqui se encontra a maior e melhor mostra de azulejaria mudéjar do mundo.
Nos cafés das redondezas, prove as queijadas e os travesseiros, especialidades locais.

Eléctrico Praia das Maçãs


Sintra é magnífica e quase tudo nela é inspirador. Classificada em 1995, como Património Mundial, a vila e a serra constituem um conjunto de riqueza única. Associada aos movimentos românticos do século XIX e com fama internacional desde então, recomendo realizar um dos mais pitorescos percursos de “eléctrico” da Europa. O eléctrico inaugurado em 1904 foi recuperado e no Verão, de sexta a domingo, faz o delicioso percurso até à Praia das Maçãs.
São 11 quilómetros num transporte com quase 100 anos e cujo percurso começa na Ribeira, no sopé da vertente Norte da Serra de Sintra e, por entre uma vegetação soberba, prossegue até ao mar num ambiente campestre. Os eléctricos (sobretudo os mais antigos, pintados de amarelo vivo ou vermelho, abertos e mantendo todas as suas características originais) são o gáudio, tanto dos passageiros como dos passantes, como se todos estivessem a viajar no tempo, num parque de diversões.
Mas a viagem é real, como reais são as vistas fantásticas para a serra, com o Palácio da Pena lá no alto, para os esplendorosos pinheiros mansos da encosta de Galamares, para as quintas, “chalets” e casas ricas, ou para as modestas casinhas e quintais que bordejam a linha.
Lentamente, a uma média de 20 km/hora, chegamos a Colares e ao seu centro com as suas adegas típicas e o rio das Maçãs. Após uma breve paragem, lá prossegue o caminho, agora cruzando o pinhal do Banzão com as suas características casinhas de veraneio dos anos quarenta.
E com 35 minutos de viagem estamos na Praia das Maçãs, vila de mar forte e maresia sempre presente, a convidar a um passeio na praia.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Reserva do Cavalo do Sorraia


A Reserva Natural é uma área dedicada à conservação e desenvolvimento de uma raça de cavalos em vias de extinção: o Cavalo Ibérico, popularmente conhecido como Cavalo do Sorraia.
Este cavalo foi durante séculos considerado como o cavalo primitivo da Península Ibérica. Encontra-se fielmente representado em pinturas rupestres na gruta Espanhola de La Pileta e na Portuguesa do Escoural. Serviu na cavalaria das legiões romanas. Foi levado para as Américas durante os séculos que durou a colonização e aí deu origem à maioria das raças hoje existentes naquele continente, como o crioulo argentino ou o mustang norte-americano. Terá estado na origem da raça nacional de Espanha – o Cavalo Andaluz – e de Portugal – o Cavalo Lusitano. Constitui por estas razões um património genético universal.
Com a colonização das Américas dos séculos XVI a XVIII e a recente mecanização agrícola, este animal tão importante foi esquecido, abandonado, e hoje encontra-se quase extinto. Na Espanha extinguiu-se. Os que existem em Portugal são os descendentes de um pequeno grupo que o Dr. Ruy d’Andrade descobriu em 1920 junto do rio Sorraia. Só existem alguns exemplares em Portugal e na Alemanha, sendo os deste País descendentes de um pequeno núcleo que o Prof. Schaefer levou para a Alemanha em 1975, da herdade do Eng. Sommer de Andrade – filho do Dr. Ruy d’Andrade – no Alentejo.
No entanto, este cavalo maravilhoso tem um espaço e um projecto que lhes são dedicados inteiramente, em Alpiarça. A Reserva Natural do Cavalo do Sorraia abrange uma área de 40 hectares – a ser expandida numa segunda fase para cerca de 100 hectares, em terrenos pertencentes à Câmara Municipal de Alpiarça e à Fundação José Relvas. Inclui terra de pastagens, bosques e lagos, possibilitando assim a recriação de um ambiente natural, tranquilo e livre para os Sorraias.
A Reserva inclui já um grupo de éguas e machos da raça Sorraia que constituem o seu núcleo fundador, assim como estábulos e cavalos de raças cruzadas da Escola de Equitação, um centro de jardinagem, falcoaria, incubadora-criadora e gaiolões para aves exóticas e lagos para aves aquáticas.
Esta agradável, tranquila e atractiva Reserva reflecte, no mais essencial, o equilíbrio entre o homem e o Meio Ambiente e pretende ser um símbolo do respeito pela Natureza e pelo Cavalo do Sorraia.

Para visitar a Reserva do Cavalo do Sorraia contactar a Câmara Municipal de Alpiarça.
Site: www.cm-alpiarca.pt

Casa dos Patudos em Alpiarça


A Casa dos Patudos de José Relvas é uma mostra de arte de um coleccionador apaixonado e, ao mesmo tempo, um museu monográfico.
Uma das maiores colecções de arte privadas do país, de valor incalculável, está guardada na vila de Alpiarça, longe das grandes cidades que normalmente concentram o património cultural. E a surpresa permanece durante toda a visita à casa – melhor dizendo, ao casarão – que o arquitecto Raul Lino projectou em 1904, 20 anos antes de desenhar o Cinema Tivoli de Lisboa e na qual José de Mascarenhas Relvas viveu largos anos.
Nascido na Golegã em 1858, filho do fotógrafo de renome internacional Carlos Relvas (cujo museu, situado naquela vila, foi recentemente remodelado), formou-se em Letras antes de se empenhar na preparação do fim da monarquia. A 5 de Outubro de 1910, da varanda da Câmara Municipal de Lisboa, coube-lhe proclamar a República. Depois foi Ministro das Finanças e embaixador em Madrid, mas sempre que podia refugiava-se na Casa dos Patudos, onde o convívio com artistas e intelectuais era frequente e a sua colecção de arte tomava forma.
Pinturas, esculturas, mobiliário, azulejaria, têxteis, relógios, faianças, porcelanas e arte sacra, dos principais países da Europa mas também da Índia, da China e do Japão, desde os finais da Idade Média ao início do século XX: obras dos mais importantes momentos da História da Arte encontram-se expostas ao longo das várias salas.
No vasto espólio predominam trabalhos de autores, oficinas e escolas nacionais. Columbano e Rafael Bordalo Pinheiro, Silva Porto, Soares dos Reis, Henrique Franco, Tomás da Anunciação, António Ramalho, Josefa de Óbidos ou Teixeira Lopes são alguns dos artistas representados.
De José Malhoa, o pintor oficial da família, há nada menos do que 30 quadros, incluindo um do cão Kaiser, excepcionalmente retratado a pedido do dono. Também notável é a colecção de tapeçarias de Arraiolos, com 40 exemplares, entre os quais um bordado a seda sobre linho datado de 1761.

Contactos
Rua José Relvas,
2090-100 Alpiarça
Telf. 243558321
Fax 243556444
Site: www.cm-alpiarca.pt

Horário de Funcionamento
Expediente: 9h-12h30 / 14h-17h30
Público: 10h-12h e 14h-17h (de Abril a Setembro encerra às 18h)
Encerra às segundas feiras e 1 de Janeiro, Páscoa, 2 de Abril, 25 de Abril, 1 de Maio e 25 de Dezembro.

Preçário
Grátis até aos 12 anos
1,25€ por pessoa (grupos escolares, cartão jovem e reformados)
2,5€ por pessoa

domingo, 23 de março de 2008

Modernices dinamarquesas


Esta fotografia parece mesmo um dos cenários do filme Trainspotting mas não...trata-se de uma casa de banho pública em Nyhavn, a zona do canal em Copenhaga. Por sinal, a única coisa feia que vi nesse país.

sábado, 22 de março de 2008

Parque Natural del Lago Sanabria-Zamora


Viagem no tempo até ao maior lago da Península Ibérica e o único de origem glaciar.

Uma História de memórias


Lá fora a chuva cai miudamente, de mansinho. Lentamente, muito lentamente, abro um olho. Depois o outro. Mas o frio demove-me. A pouco e pouco mergulho no doce reino dos sonhos de algodão.
Corria o ano de 1960, numa pacata vila dos arredores de Lisboa, banhada pelas águas da margem direita do Tejo, numa época em que os habitantes ainda iam a banhos na ribeira dos Caniços e em que 15 caixotes do lixo, eram suficientes para as necessidades de limpeza urbana da terra.
Há muitos séculos atrás, D. Martinho, um nobre de Portimão, recebeu o Morgado das mãos d’el rei D. Afonso III.
Local com muitas salinas e pântanos rodeados por fluidos mortos, o vilarejo tomou o nome de Póvoa. A “Santa Iria” só seria incorporada na toponímia, séculos mais tarde, fruto do lobby das beatas da paróquia, que insistiram através de fervorosos sussurros, junto do senhor prior, na devoção da dita santa.
Em anos idos pertenceu ao concelho de Loures, já foi um grande pólo de desenvolvimento industrial e hoje é um dormitório, encravada entre a auto-estrada do Norte e o IC2, poluída por imponentes torres de betão que nem o Plano Director Municipal conseguiu travar. A população hoje são forasteiros que com o passar dos anos se tornaram nos residentes oficiais dos bairros da Quinta da Piedade e do Casal da Serra.
Mas voltemos um pouco atrás no tempo. Era uma vez uma casa amarelo pálido — a única que tinha uma palmeira plantada no jardim, para inveja de todas as outras — com empregadas de farda preta e branca e meninos com cabelo quase tão branco como o mais puro dos algodões. Os risos e gargalhadas dos petizes povoavam os jardins, brincando inocentemente com armas de guerra, aviões de papel, baloiços, escorregas e caixas coloridas, sob o olhar atento da nunie contratada por Madame Gotzen.
Monsieur Gotzen nasceu em Bruxelas e formou-se em Química, na Universidade da Solvay. Os dezanove valores de nota final de curso, explicam a presença permanente no Quadro de Honra da escola. Após um estágio na fábrica da Solvay, em Bruges, foi transferido com a incumbência de dirigir os destinos da Soda Póvoa, que nos anos 70 seria adquirida na totalidade por capital belga. O seu tempo era passado no escritório — com janelas rasgadas para o céu — donde comandava os destinos a partir da sua secretária escura, de pau-santo original, herança do último Senhor Director da fábrica.
A adaptação da família não foi fácil, Madame Gotzen queixava-se dias a fio do calor e da ausência das amigas de solteira, isolando-se do mundo na estufa repleta de begónias escarlate e alvos amores perfeitos, salpicados por ânforas e corais, souvenirs da viagem à Africa do Sul, no Verão de 57.
Christian, o filho mais velho, pregava endiabradas partidas e escondia-se para desespero da menina Emília, a professora de francês, jovem de boas famílias mas que por infortúnio do destino, ou pura falta de jeito, não tinha conseguido arranjar um casamento de conveniência.
No dia 2 de Fevereiro, em virtude da cozinheira Francisca ter adoecido, Monsieur Gotzen colocou um anúncio na Gazeta da Póvoa, o único mass media num raio de 20 quilómetros, com uma tiragem de 400 exemplares, explicada pelo facto de que 70% da população não sabia ler nem escrever, o chamado analfabetismo primário.
Entre os entrevistados encontrava-se um único homem. Mário, era um rapaz franzino, com a pele curtida pelo sol e pelas amarguras da vida mas que não escondia um certo ar de rufia, talvez explicado pelos anos de convivência com os outros campinos da Lezíria de Vila Franca.
De repente, acordo. Estremeço perante a amargura de estupidamente o relógio ter avançado, sem pedido de autorização prévio, para as 7.30.

Viagem à Noruega, terra dos trolls


Aqui fica um relato de uma viagem que fiz a Bergen, na Noruega, de carro.Esta viagem decorreu em perto de 3 semanas e totalizou cerca de 10.200 quilómetros.
Oslo está localizada junto a um fiorde com cerca de 110 quilómetros de extensão. É também a capital mais antiga da Escandinávia. Aqui visitámos o Parque Vigeland, cujas esculturas retratam os estádios da vida. Da pista de saltos de Holmenkollen, tem-se uma vista soberba da cidade.
Em Oslo e Bergen pagam-se taxas ecológicas para circular de carro. Os noruegueses têm um país lindo e merecem-no, porque são extremamente cuidadosos com o meio ambiente.
O caminho de Oslo para Bergen é digno de um conto de fadas, mais de 500 quilómetros com o magnífico cenário de fiordes, florestas, lagos, cascatas e casas de madeira.
Depois continuámos para Voringfossen, uma das mais impressionantes cascatas da Noruega. Em Bruravik fizemos uma curta travessia do fiorde até Brimmes. De facto, a única forma de chegar a Bergen é via ferry. Antes de entrar em Bergen ainda passámos pelo fiorde Handanger, o mais largo da Noruega. Uma verdadeira saga norueguesa.
A estrada de Oslo para Bergen é considerada um dos expoentes máximos da engenharia moderna. O maior túnel tinha um comprimento de 19 quilómetros dentro da montanha!
Visitámos Bergen, onde fomos ao famoso mercado de peixe, que parece saído de um filme publicitário de tão bonito que é. Tirei muitas fotografias com os trolls, duendes da floresta, cujos bonecos estão espalhados pela cidade.
A nossa cabana ficava a um metro da água! Lá é possível fazer este tipo de construções porque a maré oscila no máximo um metro.
Quando deixámos nas nossas costas a Noruega ficámos com uma sensação que tínhamos deixado lá um bocadinho de nós: pela beleza do sitio. E pela afabilidade dos seus habitantes.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Como vai ser quando eu crescer...


Mãe, como vai ser quando eu crescer? Nunca mais vou chegar a casa com os joelhos esfolados, as meias enroladas até aos tornozelos, o cabelo desalinhado, os berlindes a cair dos bolsos das jardineiras e os meus pedaços de madeira, as pedras do jardim e as caixas e caixinhas — vazias de nada e cheias de tudo — passarão à condição de lixo puro.
Um dia destes, em meados de Setembro, daqui a alguns anos, irás comigo à Papelaria Valentim, propriedade da D. Conceição, que teima furiosamente em depositar na minha face dois estridentes e molhados beijos, os quais estou proibida de limpar com a palma da mão. Espero que nessa altura já possa ter, como a mana, cadernos de mil e uma cores, decorados com peixes, cavalos marinhos e corais, quase tão bonitos como o teu sorriso.
A mana diz que eu estou sempre a pedinchar, que hoje em dia os miúdos são uns privilegiados, mesmo aqueles que ainda usam fraldas. Acho que aprendeu esta palavra lá na escola dos grandes, porque desde a semana passada até o cão da vizinha do r/ch é um privilegiado. Como se os nossos sete anos de diferença dessem-lhe um estatuto muito diferente do meu. A única diferença é que ela já usa soutien e tem um aparelho nos dentes e os poucos que ainda tenho o pai diz que vão cair.
Quando for grande vou mexer na prateleira que está por cima da sanita, na caixa de algodão para os arranhões e vou saber ler os rótulos dos frasquinhos com pedrinhas e vidros coloridos, que todos teimam em chamar de comprimidos, mas que para mim não passam de smarties.
Nessa altura já saber-me-ei defender dos aviões de papel, das fisgas, dos tubos de plástico com azeitonas e das boladas do Carlos do quinto andar, que deixam-me assustada.
A mana já lava a loiça — talvez no futuro tenhamos cá em casa a máquina de lavar igual à do anúncio da televisão — mas tu nunca deixas-me mexer na água, que eu tanto adoro. Queria muito ter umas botas de borracha, como os outros miúdos, para poder chapinhar à vontade mas tu não deixas, dizes que o calçado de borracha faz mal aos pés, sobretudo a pessoas como eu, que sofrem de pé chato.
Às vezes agarro-me às tuas pernas — as maiores do mundo — e à tua saia, que cheira sempre tão bem, e tu olhas-me aí de cima, fazes cara feia por entre frigideiras, escumadeiras, espátulas e ovos temperados com pouco sal e dizes-me com ar zangado que não posso estar perto de ti quando estás ao fogão, que pode ser perigoso.
Mas como é que pode ser perigoso? Nada é perigoso quando estás perto de mim, nem mesmo quando o vento assobia e empurra os fantasmas, como o primo João diz para irritar-me. Sabes porquê? Porque és a minha mãe.

Utopias


Pena, porque torturas-me
Suspendo-te no ar como um naufrago
Que num olhar vazio de conteúdo e cheio de esperança,
Procura desesperadamente,
Uma sombra salvadora,
Uma luz ténue, uma mão amiga na linha do horizonte,
Que tarda em chegar.

Lentamente desvio o olhar
Pouco a pouco concentro-me na mancha branca,
Tão pueril e tão alva,
Senhora da situação, provocadora e insinuante
Barulho ensurdecedor que num tom gritante
Diz, exige, branda, sem pudor, escreve, num aqui e agora
Que eu sei que prender-me-á nas amarras do tempo
Para sempre.

Limites, ideias, utopias, um ser que não é,
Acreditar ou não, ir ou ficar, dormir acordada,
Ou adormecer na inquietude da tua temperança
Soa-me a tempestade, sinto que os lobos e as gaivotas
Uivam e chiam, desesperados, perturbados,
Nasce um céu de novos tons,
Nunca antes vistos,
No ar aflora um odor de mil sentidos, sem nome.

Sempre te procurei e serei tua para sempre,
Mas o nome de amo e senhor nunca será teu
Nem eu serei a tua escrava,
Pois a palavra verdade deve ir sempre nua
Acompanhada de todos os ideais e utopias
Quer faça sol,
Quer a tempestade seja avassaladora
E nem os faróis possam salvar os navios da nossa alma.

Mergulho nas ondas, salgo o meu olhar
E enches-me pouco a pouco,
Salvas-me
Mesmo que doa,
Sei que sou feliz,
Porque existes em mim
Hoje … e para sempre.

Como um desejo de mar


Como um desejo de Mar
Este Verão fui visitar-te
Brinquei com as tuas ondas
Despi-me nas tuas águas
E mergulhei em ti, muito de mansinho
Sem preconceitos
Ofereci-te um sorriso largo e terno,
À medida da tua imensidão e desejo

Após deslizar nas tuas águas
Deixaste-me pôr o pé em terra firme
E tu, a illha, tão virgem e tão pueril,
Vestiste-te de festa para receber-nos
Enlouqueceste-me de prazer
Revelei-te os meus segredos
Mesmo aqueles que são só meus e teus
Ouviste as minhas inconfidências

Depois a maré trouxe uma sereia
Com uma barbatana cor do céu
Boca de morango escarlate
Corpo franzino e saltitante
O teu nome só podia ser Eva
Porque em ti, há de tudo um pouco
Do muito que há em todas as mulheres

Dum búzio quechua surge o Aladino
Enigma que se perde no tempo
Personagem algures entre o exótico e o surreal
Partilhaste a tua sapiência
Revelas-te a tua aura de simplicidades
Aqui e agora chamarte-ei Adão

E no fim, ó pescador, embrenhei-me na tua maresia
Fizeste-me sentir um turpor de felicidade
Um eloquente maremoto
Que o momento tão brevemente não esquecerei
Porque o teu cheiro
E o teu sabor
Enrolou-se nas ondas do meu pensamento.

Descobridores de Carpe Diem


Descobridores de Carpe Diem (viver a vida em pleno) é um Jogo que se joga no tabuleiro da vida e o rasto da sua origem perde-se algures nas brumas da memória humana.
Alcançou alguma popularidade na Europa, sobretudo nos países mais desenvolvidos e com poder de compra mais elevado. Basta os jogadores sentirem vontade pessoal na respectiva adesão.
O jogo tornou-se popular em parte devido à sua mecânica extremamente simples. No entanto, é muito dinâmico, com inúmeras possibilidades. A nível recreativo possui lgumas características que o tornam adequado a ser jogado em família ou com amigos. O ideal é ser com alguém que faz-nos Feliz…de preferência muito! Ninguém é eliminado e jogadores que ficam para trás dispõem sempre de objectivos quantificáveis e ao seu alcance. Em termos competitivos, o jogo mostra até onde pode chegar a mente humana, a nível de análise e estratégia adaptativas.
Presume-se que os jogadores são colonos de uma ilha. Cada colono deve explorar os recursos naturais da ilha para viajar, passear, participar em workshops, concertos, ir ao cinema, à praia, etc. Em suma, aproveitar as oportunidades que a vida lhe oferece no momento em que elas se apresentam, sob as mais diversas formas.
Pode ainda comprar cartas de desenvolvimento que representam progressos em direcção à civilização. A produção de recursos é controlada por dois dados (inteligência e criatividade). Cada vez que os dados são lançados são produzidos novos recursos para cada colono, que este pode aproveitar ou não.
Não existem vencedores. Mas os jogadores mais felizes são aqueles que ao longo do percurso das respectivas vidas acumularam suficientes pontos de vitória para no tabuleiro da vida sentirem-se bem com eles mesmos.
Pontos de vitória académica e profissional não são contabilizados. Fazem parte de outros jogos.
O professor, personagem de Robin Williams no filme "A Sociedade dos Poetas Mortos" diria: "Mas se você escutar bem de perto, você pode ouvi-los sussurrar o seu legado. Vá em frente, abaixe-se. Escute, está ouvindo? - Carpe - ouve? - Carpe, carpe diem, colham o dia garotos, tornem extraordinárias as suas vidas."

quarta-feira, 19 de março de 2008

A Alegoria que ainda não tinha sido escrita


Imagina um homem numa morada no ciberespaço, sob a forma de um nick name, com um perfil público;
esse homem demonstrou interesse pelo assunto algures no tempo, de olhos/mãos acorrentados ao monitor e teclado, segue o que está diante seus olhos, pois a atenção impede-o de voltar a cabeça;
a luz chega-lhe através da energia eléctrica numa coluna que se ergue algures no espaço;
entre as frases enviadas e recebidas chegam-lhe sms provenientes de um mundo ascendente. Imagina que ao longo dessa comunicação a ligação à Internet cai abruptamente.

Estou teclando.